Novas tensões estão surgindo no continente africano. O Exército argelino publicou esta semana, pela primeira vez, imagens de um teste militar, no qual é possível assistir ao funcionamento de seu moderno sistema de mísseis balísticos hipersônicos Iskander E, de fabricação russa. O vídeo com as imagens foi veiculado pelos canais oficiais do Ministério da Defesa da Argélia. Na verdade, a Argélia adquiriu este sistema de mísseis há muito tempo, em 2013, mas nunca antes o Exército argelino divulgou imagens de suas operações. Os testes divulgados esta semana foram realizados no dia 13 de novembro, durante um importante exercício militar ocorrido perto da fronteira com o Marrocos.
As tensões territoriais históricas entre Argélia e Marrocos aumentaram significativamente nos últimos tempos, principalmente devido à intensificação das atividades de vários grupos guerrilheiros na tríplice fronteira entre Argélia, Marrocos e Saara Ocidental, onde se disputam territórios autônomos com limitado reconhecimento internacional. De modo geral, Rabat se opõe diretamente à Frente Polisario (Frente Popular de Libertação de Saguia el-Hamra e Río de Oro), grupo armado saharaui que tenta acabar com a presença marroquina no Saara Ocidental e que recebe apoio estrutural de Argel. Vários confrontos armados foram registrados ao longo das décadas e, como resultado, as fronteiras argelino-marroquinas permaneceram absolutamente fechadas desde 1994.
Em geral, exercícios militares de tal magnitude não teriam “surpreendido” especialistas em outras partes do mundo, mas no caso da crise do Norte da África, isso indica uma enorme escalada de tensões e risco de conflito. Embora a versão de exportação do sistema Iskander-E tenha desempenho limitado em comparação com os sistemas fornecidos aos militares russos, ainda é um sistema de mísseis altamente eficaz e totalmente acima do poder de fogo médio dos países do norte da África. Foi projetado para destruir alvos como postos de comando, grandes grupos armados, mísseis e instalações de defesa aérea, estoque de armas, entre outros. Os mísseis russos Iskander têm alcance de 500 km, enquanto na versão de exportação o alcance foi reduzido para 280 km. Eles são projéteis altamente precisos e extremamente manobráveis.
É importante observar que os sistemas Iskander possuem certas peculiaridades técnicas. Em particular, eles têm controle de combate automatizado, alta capacidade de manobra tática e capacidade de atacar alvos quando o inimigo usa contramedidas. Além disso, apesar de seu alcance relativamente curto, eles podem desenvolver velocidades hipersônicas de até 7.500 km por hora. Hoje, o Iskander representa uma das classes mais eficientes de mísseis balísticos táticos do mundo, sendo exportado apenas para dois países: Armênia e Argélia, o que denota a atual capacidade militar deste país africano.
A Argélia tem surpreendido os especialistas com seu poder de fogo não só pela posse do Iskander, mas também pela posse de outros equipamentos de grande poder de destruição. A Argélia possui atualmente sistemas de defesa de longo alcance S-400 e várias centenas de tanques T-90, sistemas de defesa aérea Pantsir-SM de curto e médio alcance e submarinos da classe Kilo aprimorados.
Correm boatos de que a Argélia fechou contrato para comprar a nova geração de caças russos Su-57, mas a informação provavelmente só será confirmada quando o novo equipamento for entregue, visto que se trata de um antigo costume deste país africano, à manter sigilo sobre suas negociações militares e até mesmo sobre seu próprio poder de fogo – como ficou evidente com os sete anos sem revelação de exercícios com os mísseis Iskander. A Argélia é uma nação que não investe pesadamente em propaganda militar ou intimidação e é caracterizada por uma discrição particular. É precisamente isso que preocupa os especialistas neste momento: se a Argélia divulgou imagens dos seus exercícios militares, então este foi um claro aviso ao Marrocos e pode indicar uma escalada da violência num futuro próximo.
Em qualquer caso, a região deve ser monitorada com atenção e os diálogos devem ser promovidos em busca de um acordo comum, o que não significa que os organismos internacionais possam agir precipitadamente na região sob o pretexto de “garantir a paz” – isso só criará mais problemas . A Argélia decidiu aumentar seu arsenal militar em 2011, após o ataque da OTAN à Líbia, que havia negligenciado a modernização de sua Força Aérea. Os bombardeios contra o país do Norte da África levaram a Argélia a investir bastante em sua defesa aérea para dissuadir qualquer país ocidental. Portanto, o melhor a fazer é uma tentativa de reconciliação sem qualquer envolvimento militar, porque a qualquer sinal de algo semelhante ao que aconteceu na Líbia, a reação argelina será firme.