Comentando a cúpula trilateral no formato de Astana, edições árabes compararam-na nos seus artigos, publicados na quarta-feira (20), à cúpula em Gidá, na Arábia Saudita, chegando à conclusão sobre quem, sobretudo, tirou proveito do evento.
Os líderes da Rússia, Irã e Turquia, Vladimir Putin, Ebrahim Raisi e Recep Tayyip Erdogan, realizaram na terça-feira (19) uma reunião em Teerã, capital do Irã, em que discutiram a questão da Síria, emitindo depois um comunicado conjunto. Os chefes de Estado salientaram a relevância do formato de Astana para a resolução da crise na Síria e acordaram se encontrar na próxima vez já na Rússia, a convite de Vladimir Putin.
O formato de Astana é o processo da resolução do conflito sírio iniciado em 2017 sob proposta do então presidente cazaque, Nursultan Nazarbaev, sendo Astana o nome antigo da capital do Cazaquistão, Nursultan.
A Rússia, Irã e Turquia condenaram os ataques contínuos de Israel contra a Síria, incluindo contra instalações civis. Ao mesmo tempo, as partes defenderam que a crise na Síria só pode ser resolvida pelos próprios sírios por meios pacíficos, condenaram todas as sanções unilaterais contra a Síria e reiteraram a sua intenção de combater os terroristas que atuam no país sob vários nomes. Deste modo, o presidente russo Putin afirmou que a linha seguida pelos países ocidentais, liderados pelos EUA, em relação à Síria é destrutiva.
O colunista do jornal pan-árabe Аl-Sharq al-Awsat salientou que não foi coincidência as cúpulas em Gidá e Teerã terem sido organizadas na mesma semana. Segundo o jornalista, trata-se de uma resposta de Teerã à “frente hostil” acordada em Riad, capital da Arábia Saudita, pelos dez países.
“Foi o Irã quem precisou mais da cúpula – para exercer pressão sobre os Estados Unidos, para que eles voltem à mesa de negociações sobre o acordo nuclear”, disse o colunista.
Por sua vez, o colunista do jornal Аl-Araby al-Jadeed, publicado em Londres, defende o contrário, dizendo que Moscou visa manter relações estreitas com a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e outros países que participaram da cúpula. Conforme o jornalista, ninguém esperava que na reunião em Teerã – a primeira após o início da operação militar especial na Ucrânia – fossem discutidos apenas assuntos relacionados com a Síria.
Segundo o observador árabe, é Moscou quem está interessada na cúpula em Teerã mais do que os outros.
“Talvez Moscou queira pela primeira vez elevar as relações com Teerã para um nível estratégico […] Devido ao colapso das relações entre o Ocidente e a Rússia, Moscou pode propor a Teerã uma aliança estratégica, que livraria por completo o Irã [da necessidade] de quaisquer vias para melhorar as relações com o Ocidente através da recuperação do acordo nuclear”, disse o colunista, não excluindo que no final a Rússia pode concordar em fornecer ao Irã sistemas S-400.
“Caso o Irã receba esses sistemas, serão alterados todos os parâmetros das negociações sobre o programa nuclear, porque Teerã poderá garantir a proteção de suas instalações nucleares, que agora não estão protegidas de potenciais ataques aéreos”, salientou o autor.
No que diz respeito à Turquia, o colunista diz que o país mantém “um pé” no campo ocidental e outro ao lado da Rússia e do Irã, o que faz com que todos os “jogadores” valorizem o país liderado por Erdogan.
“Não parece que a cúpula em Teerã tenha resultado no alinhamento de pontos de vista dos três países sobre a operação militar turca, que Ancara planeja efetuar contra os militantes curdos na Síria. Contudo, a reunião confirmou a linha de cooperação de longo prazo entre Moscou e Teerã”, comunica a edição Аl-Quds al-Araby.
Os líderes dos países do Golfo, junto com chefes de Estado do Egito, Jordânia e Iraque, realizaram uma cúpula em Gidá, na Arábia Saudita, em 15-16 de julho com participação do presidente norte-americano Joe Biden.