Enquanto corre pela floresta densa, protegendo o filho menor, os galhos arranham as roupas e ferem os braços do pastor Yang (pseudônimo), em Mianmar. Sua esposa tropeça nas raízes expostas, mas não para de correr porque ouve tiros próximos. “Corremos e rastejamos sob o fogo cruzado. Às vezes, passamos a semana inteira buscando um refúgio seguro, lutando para sobreviver. As bombas continuam caindo atrás de nós”, relata o pastor.
Na imensidão de uma floresta, a família busca proteção debaixo de um abrigo improvisado com lona. “Se descobrirem nosso esconderijo, os bombardeios recomeçarão. Não há água, não há comida, e o choro das crianças é constante. Não temos nada”, descreve.
Conflito e perseguição
Essa é a realidade da família desde 2021, quando a guerra civil começou em Mianmar. Eles perderam dinheiro, bens foram saqueados e suas igrejas se tornaram alvos da violência. “Sinto-me impotente por não conseguir proteger minha família. Em momentos de desespero, chegamos a duvidar da presença de Deus”, confessa o pastor.
Embora os cristãos já enfrentassem perseguição em Mianmar, o golpe militar de 2021 exacerbou o sofrimento. Ataques aéreos devastaram igrejas e comunidades cristãs, muitas pessoas foram mortas. Estima-se que cerca de 40 mil cristãos foram deslocados ou forçados a se esconder em apenas um ano.
Durante a fuga, os cristãos se sentem desamparados, sem água, abrigo ou segurança, e sua fé é severamente testada. “Sentimo-nos profundamente sozinhos, isolados. Os membros da minha igreja estão espalhados por toda parte. É extremamente perigoso tentar visitá-los, pois, a qualquer momento, em qualquer lugar, podemos ser vítimas de bombardeios e tiroteios”, lamenta o pastor.
Fuga constante
Yang recorda da primeira vez que foi forçado a abandonar seu lar. Na época, o jovem pastor recém-casado foi abordado por policiais no mercado, questionado sobre um protesto. Para ele e sua esposa, aquela abordagem carregava uma ameaça implícita. “Sentimos-nos inseguros e decidimos fugir”, relembra.
Desde então, a fuga se tornou uma constante em suas vidas. O cristão se tornou pastor de uma pequena igreja, mas, um dia, os membros da congregação foram vendados e ameaçados com armas, resultando na dispersão da comunidade. Em outra ocasião, sua motocicleta e sua reserva de emergência, equivalente a dois meses de salário, foram roubadas, tornando a permanência insustentável.
Hoje, o pastor Yang está física e emocionalmente exausto, esgotado por anos de instabilidade, pobreza e estresse. “O fardo de fugir com crianças pequenas é insuportável para minha esposa e para mim. Vivemos cercados pelo som de tiros e explosões. A morte nos espreita a cada instante. Quando saio para comprar comida, minha oração é: ‘Deus, ajude-me a voltar em segurança’”, compartilha.
No entanto, o apoio de outros cristãos é como um farol de esperança em meio à escuridão. “Sabemos que as orações dos cristãos ao redor do mundo nos protegem. Nossa família se une em oração todas as noites, pedindo a Deus que nos fortaleça. Há um Deus que tudo pode. Ele nos sustenta. Às vezes, a vontade de desistir é grande, mas somos encorajados a seguir em frente e servir ao Senhor”, conclui o líder cristão deslocado.
Socorra cristãos deslocados em Mianmar
Há centenas de cristãos como o pastor Yang que precisam de apoio para sobreviver e se manter firmes em Jesus. Faça uma doação e garanta que cristãos deslocados recebam socorro emergencial, cuidados pós-trauma e apoio espiritual.