Assumindo de vez o protagonismo político na guerra entre Israel e o Irã, o presidente Donald Trump exigiu que a teocracia persa se renda incondicionalmente. Também afirmou que o líder do regime, aiatolá Ali Khamenei, é “um alvo fácil”, mas que os Estados Unidos não irão matá-lo —”ao menos não por enquanto”.
A ameaça pouco sutil foi publicada na rede Truth Social, e veio depois de Trump ter dito para todos os moradores de Teerã deixarem a cidade na véspera. Ele também afirmou que não está trabalhando por um cessar-fogo entre o Irã e Israel, e sim pelo “fim da guerra”, que veio na forma de ultimato.
“Nós sabemos exatamente onde o dito “líder supremo” está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está a salvo lá Nós não vamos matá-lo (matar!), ao menos não por enquanto. Mas não queremos mísseis disparados contra civis ou soldados americanos. Nossa paciência está acabando”, escreveu. Logo depois, completou com maiúsculas: “RENDIÇÃO INCONDICIONAL”.
Trump propositadamente fala com se os EUA, e não Israel, estivessem em guerra, embora confunda as coisas ao falar em soldados americanos —ele já havia dito que qualquer retaliação contra alvos de Washington seria uma declaração de guerra.
Numa outra postagem, o republicano ainda disse que “nós controlados os céus do Irã”, assumindo para si a reivindicação da véspera em Tel Aviv. Disse que Teerã tinha boas defesas aéreas, mas que nada é melhor do que “coisa produzidas nos bons e velhos EUA” —os caças israelenses são todos americanos.
A entrada ativa dele no conflito que eclodiu quando o Estado judeu atacou a teocracia islâmica na sexta passada (13) mudou o cenário político da guerra, que viu uma noite com uma troca um pouco menos intensa de ataques de lado a lado —nem por isso menos mortífera, como as 24 vítimas iranianas relatadas comprovam.
Nesta manhã de terça, antes da ameaça a Khamenei, Trump havia continuidade a seu fluxo de pensamento algo caótico acerca do que pretende fazer. Ele havia escrito que o não procurou o Irã para discutir a paz de nenhuma forma.
Teerã “deveria ter aceitado o acordo enquanto ele estava na mesa”, disse, referindo-se às rodadas de negociações abertas por ele para achar uma forma de reviver o arranjo no qual os aiatolás desistiriam da bomba atômica em troca do fim de sanções econômicas.
As conversas chegaram a um beco quando os EUA exigiram o fim de todo o programa nuclear do país persa, o que o líder supremo rechaçou. Haveria uma nova etapa de reuniões, mas Israel atropelou Trump e atacou.
Na segunda (16), Trump causou alarme quando deixou a reunião do G7 no Canadá e voltou para a Casa Branca, depois de postar a sugestão de evacuação da capital de 10 milhões de habitantes, uma impossibilidade prática.
A sugestão inspirou os rivais. O comando militar do Irã disse, no começo da noite (tarde no Brasil), que Tel Aviv e Haifa deveriam ser desocupadas imediatamente também.
Ao entrar no avião rumo aos EUA, Trump rebateu a sugestão do presidente francês, Emmanuel Macron, de que ele iria oferecer uma trégua. “Ele não tem ideia”, disse, “é muito maior” que um cessar-fogo, disse Trump, que acusou o colega de publicidade com seu nome.
“Quero um fim de verdade para a guerra”, disse, afirmando que os EUA exigem o fim completo do programa nuclear iraniano. Diversas instalações da iniciativa foram atacadas por Israel, sendo seu “casus belli” inicial do conflito, mas há a percepção de que uma erradicação total depende de bombas que penetram em bunkers que só os americanos têm.
Na segunda, Trump ordenou um reforço nas forças militares no Oriente Médio, inclusive enviando mais um grupo de porta-aviões para a região, onde já opera um. Em tom de ultimato, admitiu a possibilidade de enviar seu vice, J. D. Vance, e o negociador Steve Witkoff para falar com emissários iranianos.
Enquanto a etapa diplomática se desenrola de forma confusa, após um dia em que circularam rumores de que Teerã estava disposto a conversar, a guerra prossegue violenta, ainda que com uma relativa queda na intensidade.
Ataques continuam
Os israelenses voltaram a atacar bases militares no oeste do Irã e a capital, que viu um grande depósito de combustíveis amanhecer em chamas. Ao menos 24 pessoas morreram, segundo o governo local. As contas são imprecisas, mas os mortos chegam a cerca de 300 do lado iraniano.
As estradas saindo de Teerã estão lotadas, segundo relatos da mídia local e do jornal The New York Times. Há muita fake news, também: imagens de congestionamentos quilométricos nas redes são de um feriado islâmico recente, por exemplo.
Tel Aviv disse ter matado Ali Shadmani, chefe militar mais próximo do aiatolá Khamenei. Ele era o líder do Estado-Maior iraniano em tempo de guerra e havia sido o chefe das Forças Armadas e da Guarda Revolucionária, a unidade pretoriana do regime.
Com isso, Israel volta a se aproximar de Khamenei, de quem já tinha matado o braço-direito. O premiê Binyamin Netanyahu não descartou assassinar o líder, algo que a mídia americana disse ter sido descartado inicialmente por Trump, nas conversas sobre a guerra entre os líderes.
Fonte: Exame.