O ciclo global da água se tornou “cada vez mais errático e extremo”, com oscilações bruscas entre secas e inundações, o que representa grandes problemas para economias e sociedades, de acordo com um relatório publicado na quinta-feira (18) pela OMM (Organização Mundial de Meteorologia), agência especializada da Organização das Nações Unidas.
O ciclo da água refere-se ao complexo sistema pelo qual a água se move ao redor da Terra. Ela evapora do solo — inclusive de lagos e rios — e sobe para a atmosfera, formando grandes fluxos de vapor d’água capazes de percorrer longas distâncias, antes de finalmente cair de volta à Terra como chuva ou neve.
As mudanças climáticas, impulsionadas pela queima de combustíveis fósseis pelos humanos, estão interrompendo esse processo.
Quase dois terços das bacias hidrográficas globais não apresentaram “condições normais” no ano passado, enfrentando excesso ou escassez de água, de acordo com o relatório “Estado dos Recursos Hídricos Globais” da OMM, uma análise anual da água doce global, incluindo córregos, rios, lagos, reservatórios, águas subterrâneas, neve e gelo.
Muitas regiões enfrentaram a escassez de água em 2024, o ano mais quente já registrado no planeta.
Os rios do Amazonas atingiram níveis sem precedentes, partes do sul da África sofreram uma seca tão extrema que governos disseram que precisaram sacrificar centenas de animais, incluindo elefantes, e as plantações murcharam em áreas dos Estados Unidos, como Texas, Oklahoma e Kansas.
As altas temperaturas também afetaram a qualidade da água em quase todos os 75 principais lagos do mundo, segundo o relatório.
Aumento de inundações e mudança em regiões frias
Apesar do calor e da seca, “também observamos múltiplas inundações, e ainda mais inundações do que em outros anos”, disse Stefan Uhlenbrook, principal autor do relatório e diretor de hidrologia, água e criosfera da OMM.
A Europa sofreu suas maiores inundações desde 2013; o furacão Helene provocou cheias catastróficas em partes dos EUA, matando pelo menos 230 pessoas, e extensas inundações na África Ocidental e Central causaram cerca de 1.500 mortes.
As geleiras sofreram perdas generalizadas pelo terceiro ano consecutivo, perdendo 450 bilhões de toneladas de gelo — o equivalente a um bloco de 6,9 quilômetros de altura, 6,9 quilômetros de largura e 6,9 quilômetros de profundidade, ou água suficiente para encher 180 milhões de piscinas olímpicas.
A Escandinávia, o arquipélago ártico de Svalbard e o norte da Ásia registraram derretimento glacial recorde, segundo o relatório.
O derretimento glacial tem consequências enormes para a elevação do nível do mar e o risco de inundações, além de ameaçar os países que dependem das geleiras para energia, irrigação e água potável.
É difícil quantificar o custo econômico total de um ciclo hidrológico cada vez mais errático, mas inundações isoladas no ano passado causaram bilhões em prejuízos, disse Uhlenbrook. A mudança na disponibilidade e no acesso aos recursos hídricos também pode “alimentar tensões e conflitos”, acrescentou.
“A água sustenta nossas sociedades, impulsiona nossas economias e ancora nossos ecossistemas”, afirmou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, em um comunicado.
“E, no entanto, os recursos hídricos do mundo estão sob crescente pressão e — ao mesmo tempo — riscos mais extremos relacionados à água estão tendo um impacto crescente sobre vidas e meios de subsistência.”
Fonte: CNN.