Em um relatório confidencial consultado pela agência de notícias AFP nesta segunda-feira (26), a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão encarregado de supervisionar o caráter pacífico do programa nuclear iraniano, afirmou que tem “preocupações crescentes” com o estado do desenvolvimento nuclear no país.
De acordo com o texto, o Irã continua com sua escalada nuclear e conta com material suficiente para fabricar várias bombas atômicas.
Segundo outro documento, de 10 de fevereiro, as reservas eram de 5.525,5 quilos, em comparação com os 4.486,8 quilos no final de outubro.
Isso é 27 vezes mais do que o limite autorizado pelo acordo internacional de 2015, que delimita as atividades nucleares do país em troca da suspensão das sanções internacionais.
Presidente de agência pede cooperação
O diretor-geral da agência, Rafael Grossi, pediu para que o governo do Irã “coopere plenamente” com os inspetores da ONU. A relação entre as duas partes piorou nos últimos meses.
Em documentos ainda confidenciais, Grossi faz referência a “declarações públicas no Irã sobre suas capacidades técnicas de produção de armas nucleares, o que reforça as preocupações” com relação às informações do governo iraniano.
A República Islâmica nega que queira desenvolver a bomba, mas alguns políticos do país fizeram declarações preocupantes, disse uma fonte diplomática.
Fim do acordo nuclear
Em 2018, os Estados Unidos, sob iniciativa do presidente Donald Trump, se retiraram do acordo nuclear. Desde então, o Irã deixou progressivamente derespeitar os compromissos assumidos naquele pacto.
Em 2022, houve negociações para tentar revitalizar o acordo, mas a iniciativa não foi pra frente.
Enriquecimento de urânio
O Irã rebaixou consideravelmente o limite de enriquecimento de urânio, fixado em 3,67%, o equivalente ao que se aplica nas centrais nucleares para produzir eletricidade. Agora, o país dispõe de 712,2 kg de material enriquecido em 20% e de 121,5 quilos em 60%.
No caso do enriquecimento em 60%, que se aproxima dos 90% necessários para fabricar uma bomba atômica, Teerã desacelerou sua produção, após tê-la intensificado no final do ano passado.
“Decidiram realizar uma operação de diluição no início do ano. Talvez não queiram aumentar as tensões” com as potências ocidentais, disse Grossi.
Sem justificativa civil
As potências ocidentais querem evitar uma conflagração no Oriente Médio.
As reuniões do Conselho de Governadores da AIEA terminam sem que nenhuma resolução tenha sido apresentada desde novembro de 2022.
EUA ‘extremamente preocupados’
Nesta segunda-feira, os EUA se declararam “extremamente preocupados com a contínua expansão do programa nuclear iraniano, sem justificativa civil crível”, segundo o porta-voz da diplomacia, Matthew Miller.
“O panorama geral continua muito sombrio”, disse Eric Brewer, do instituto de pesquisa americano Nuclear Threat Initiative (NTI). “Nenhuma via diplomática parece capaz de deter a escalada num futuro próximo”, afirmou ele.
Nessas condições, a AIEA parece impotente. Grossi “lamentou profundamente” que o Irã não tenha recuado em sua decisão de descredenciar vários inspetores da agência.
Essa medida “sem precedentes”, anunciada em setembro, “afetou diretamente e agravou” a capacidade da agência da ONU de controlar o programa nuclear iraniano, afirmou diversas vezes a AIEA.
Neste sentido, Grossi disse que a República Islâmica restringiu sua cooperação com a AIEA como nunca antes havia feito e uma “captura de reféns”.
Frente a tais críticas, o governo iraniano anunciou na semana passada que convidou Grossi para visitar Teerã em maio, em ocasião de uma conferência internacional sobre energia.
Fonte: AFP.