Enquanto decorre o conflito em Nagorno-Karabakh, o premiê armênio, Nikol Pashinyan, concedeu entrevista à Sputnik falando sobre o conflito na região de litígio.
O conflito em Nagorno-Karabakh, que se intensificou no final de setembro, já tirou a vida de várias centenas de pessoas, segundo alguns dados. Até o momento não foi estabelecido um cessar-fogo estável, apesar dos acordos obtidos com intermediação da Rússia.
O diretor-geral da agência Rossiya Segodnya (à qual pertence a Sputnik), Dmitry Kiselev, realizou entrevistas paralelas com os líderes da Armênia e Azerbaijão, Nikol Pashinyan e Ilham Aliev, respectivamente. A ambos os líderes foi dado o mesmo tempo para respostas.
O primeiro-ministro Nikol Pashinyan explicou a Kiselev como ele avalia o cenário e a presença na região de mercenários estrangeiros.
Da mesma forma, ele expressou sua opinião sobre quem e por qual razão está por trás da intensificação do conflito, ao passo que informou quais compromissos o lado armênio está disposto a tomar e o que seu país não aceitará, independentemente das condições.
Dmitry Kiselev: Senhor primeiro-ministro, muito obrigado por aceitar responder a nossas perguntas neste momento difícil para a Armênia e o mundo. Como o senhor avalia os resultados dos combates desde 27 de setembro? Quais foram as perdas de [ambos] os lados e quantos são os prisioneiros de guerra?
Nikol Pashinyan: A situação é muito complicada. Há muitas perdas de ambos os lados. O Exército de Autodefesa de Nagorno-Karabakh mantém a defensiva, organiza sua defesa, e eu posso avaliar a situação como bastante complicada.
DK: Ou seja, avaliar as perdas dos lados e a quantidade de prisioneiros presos no momento não é possível?
NP: Muitos especialistas dizem que esta é uma guerra sem precedentes pelas suas dimensões no século XXI. Porque aqui estão envolvidos todos os tipos de armamentos: tanques, drones, aviões e helicópteros, blindados, artilharia, sistemas de mísseis etc. E muitos soldados e tropas estão envolvidos nessas operações militares. Ou seja, estão em curso combates de grande escala e muito violentos, e no momento atual o Exército de Autodefesa de Nagorno-Karabakh mantém a defensiva. E de fato podemos dizer que os planos da Turquia e Azerbaijão de tomar o controle de Nagorno-Karabakh em uma guerra-relâmpago no momento falharam.
DK: Senhor primeiro-ministro, nós frequentemente ouvimos falar sobre mercenários estrangeiros e terroristas lutando do lado do Azerbaijão. O senhor teria provas disso, e existem estrangeiros lutando do lado da Armênia?
NP: Todo o mundo já fala sobre isso. É uma nuance muito importante, e também é importante porque ajuda a entender quem e com quais intenções começou essas operações militares. Claro, existem provas concretas de que militantes terroristas da Síria participam dos combates contra Nagorno-Karabakh. Estes vídeos de prova já foram publicados nas redes sociais e na mídia. Agora já é evidente que a Turquia é a principal patrocinadora desta guerra. A Turquia contratou e enviou tais militantes terroristas para a zona do conflito de Nagorno-Karabakh. Por decisão e sob patrocínio da Turquia foi tomada a decisão de começar a guerra, o ataque contra Nagorno-Karabakh. É importante entender, por que? Porque ficou evidente que o Exército do Azerbaijão sozinho não é capaz de lutar contra o Exército de Autodefesa de Nagorno-Karabakh. Por isso a Turquia decidiu envolver terroristas, tropas turcas – elas estão não só envolvidas no comando das ações militares, mas também diretamente por meio de forças especiais do Exército da Turquia. De acordo com algumas informações, também estão envolvidas nas operações forças especiais do Exército do Paquistão. E eu acho que em relação, pelo menos, à participação de militantes do lado da Turquia – isso já foi comprovado perante todo o mundo, porque muitas mídias internacionais já escrevem sobre isso. Uma informação muito interessante chegou no decorrer dos últimos dias a partir da Rússia, do norte do Cáucaso, quando na Chechênia e Daguestão foram eliminados militantes, e houve a informação de que tais militantes chegaram à Rússia do exterior, vieram da Síria. Eu vejo aqui uma ligação direta neste processo: os militantes da Síria foram transferidos pela Turquia à zona de conflito em Nagorno-Karabakh, para começar uma guerra contra Nagorno-Karabakh, e agora eles estão surgindo no norte do Cáucaso. Isso é um fato muito significativo, que mostra que tal situação não é simplesmente sobre o conflito em Nagorno-Karabakh, mas saiu de seus limites, no sentido local. Isso é um conflito regional de grande escala, o qual afeta interesses concretos de países regionais. Eu acho que, particularmente na Rússia, devem estar muito atentos a tal fato. Em relação ao lado armênio: é óbvio que não existe nenhum estrangeiro para lutar do lado de Nagorno-Karabakh. Pode haver alguns armênios que vieram da diáspora para apoiar seus compatriotas. Mas, obviamente, não podemos os considerar mercenários.