Combater a ameaça à segurança colocada pela ascensão da China será uma parte importante da lógica futura da OTAN, segundo o chefe da aliança. Tal declaração marca o início de um novo pensamento sobre os objetivos da aliança ocidental, refletindo a alteração do foco geoestratégico dos EUA para a Ásia.
Em entrevista ao Financial Times, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, contou que a China já estava tendo um impacto na segurança europeia através de suas capacidades cibernéticas, novas tecnologias e mísseis de longo alcance. Por essa razão, o modo de como defender os aliados da Aliança Atlântica contra essas ameaças será “profundamente” abordado em sua nova doutrina para a próxima década, disse Stoltenberg.
O novo foco na China surge em meio a uma mudança determinada na orientação geopolítica dos EUA, afastando-se da Europa para um conflito hegemônico com Pequim.
“A OTAN é uma aliança entre a América do Norte e a Europa. Contudo, essa região enfrenta desafios globais: o terrorismo, crime cibernético, mas também a ascensão da China. Portanto, quando se trata de fortalecer nossa defesa coletiva, trata-se também de como enfrentar a ascensão da China. O que podemos prever é que a ascensão da China terá impacto sobre nossa segurança. Já teve”, comentou o secretário-geral da aliança ocidental citado na matéria.
A OTAN adotará seu novo Conceito Estratégico em uma cúpula em junho de 2022, que delineará os objetivos da aliança para os próximos dez anos, uma vez que a versão atual, adotada em 2010, não menciona o gigante asiático.
A Aliança Atlântica está buscando uma nova direção após o fim de seus 20 anos de missão no Afeganistão, enquanto as discussões sobre o futuro da presença militar norte-americana no continente europeu ainda estão decorrendo.
Por que tal foco na China?
Stoltenberg explicou que os aliados da OTAN procurariam “reduzir” as atividades fora de suas fronteiras e “aumentar” sua resistência defensiva interna, de modo a se oporem melhor a ameaças externas.
“A China está se aproximando de nós […] Nós os vemos [os chineses] no Ártico. Nós os vemos no espaço cibernético. Nós os vemos investindo fortemente em infraestrutura crítica em nossos países. E, claro, eles têm cada vez mais armas de alto alcance que podem atingir todos os países aliados da OTAN. Eles estão construindo muitos, muitos silos para mísseis intercontinentais de longo alcance”, advertiu o chefe da aliança citado pelo Financial Times.
No domingo (17), a China testou um míssil hipersônico de capacidade nuclear, que viajou ao espaço em torno do globo em uma forma orbital antes de acelerar através da atmosfera em direção ao alvo. O veículo planador hipersônico testado teria errado supostamente o alvo por dezenas de quilômetros, mas demonstrou um “progresso surpreendente” da China em armas hipersônicas.
Este acontecimento levantou sérias preocupações em Washington, sendo que o secretário da Força Aérea dos EUA, Frank Kendall, alertou que a China poderia estar desenvolvendo capacidades nucleares, incluindo potencial para “ataques globais a partir do espaço”, obrigando os EUA a desenvolverem suas próprias armas para conter Pequim.
O que acontecerá com a Rússia?
No entanto, qualquer sugestão de diminuir a dissuasão contra a Rússia encontraria protestos dos vários Estados-membros do leste europeu, pois eles veem Moscou como uma ameaça existencial e a aliança como sua única garantia de segurança.
Stoltenberg, por sua vez, afirmou que a Rússia e a China não devem ser vistas como ameaças separadas, uma vez que “a China e a Rússia trabalham em estreita colaboração”, pelo que “quando investimos mais em tecnologia […] é para ambos [Rússia e China]”, citado pela mídia.