Uma inscrição rara parafraseando parte do Salmo 86 escrito no grego utilizado no Novo Testamento foi trazida à luz do dia por uma equipa de arqueólogos da Universidade Hebraica que estão a escavar na fortaleza de Hyrcania, uma estrutura da época do Segundo Templo situada no topo de um monte no deserto da Judeia, cerca de 17 quilómetros a Sul de Jerusalém.
As palavras foram escritas em vermelho por baixo de uma cruz, em grego koine (o mesmo usado para escrever o Novo Testamento), na parede lateral de um grande edifício em pedra, e rezam assim: “Jesus Cristo, guarda-me, pois sou pobre e necessitado. Guarda a minha vida, pois sou fiel a Ti.” No Salmo original no hebraico, conhecido como “a oração de David”, lê-se na primeira parte: “Ouve-me, Senhor, e responde-me.”
Uma comunidade de monges cristãos bizantinos fundada no 5º século d.C. deverá ser a autora desta adaptação do Salmo 86. Segundo os peritos, e devido a alguns erros na ortografia, o autor não deveria ter o grego como sua língua nativa.
Para além desta adaptação de um Salmo, foi encontrada por perto uma outra inscrição semelhante, a qual aguarda ainda ser analisada por peritos. Estes serão provavelmente os únicos Salmos em grego koiné registados em pedra, uma vez que outros exemplos têm sido encontrados registados em pergaminhos ou outros materiais.
A fortaleza de Hyrcania remonta ao período da dinastia dos hasmoneus (2º – 1º séculos a.C.), e encontra-se no topo de um monte com cerca de 200 metros de altura. A parte cimeira foi aplanada de forma a poder conter a construção, que é parte de um conjunto de fortalezas construídas no deserto da Judéia. Anos mais tarde, o Rei Herodes expandiu grandemente e reabasteceu a fortaleza, tal como fez com Massada e com Herodium.
Após a morte de Herodes o Grande no ano 4 a.C., a fortaleza entrou em desuso, até que no final do século 5º d.C. os monges bizantinos fundaram ali um mosteiro, apelidado de Kastellion, ou “pequeno castelo” no grego, tendo sobrevivido à invasão islâmica do ano 635, e tendo estado em uso até ao início do 9º século d.C. Desde essa altura que o lugar foi abandonado, permanecendo em ruínas.
O local contém ainda túmulos herodianos e bizantinos, os quais foram há muito sistematicamente saqueados, embora a grande parte da estrutura tenha ficado intacta, muito por conta da aridez e dificuldade de acesso ao local. A falta de água e o muito calor terá desmotivado os saqueadores.