Após falarmos sobre a atuação do Boko Haram na Nigéria, vamos tratar sobre a violência praticada por assaltantes islâmicos. Comumente identificados como pastores de cabra fulanis, vão predominantemente a vilas cristãs, no Cinturão Médio, na Nigéria, com frequência à noite, atacar pessoas inocentes, incluindo mulheres e crianças. Mas a questão não é nova – confrontos entre grupos diferentes dos pastores de cabra fulanis e agricultores têm matado milhares de pessoas na Nigéria nas últimas décadas.
De acordo com o Índice de Terrorismo Global, em 2014, mais de 1,2 mil pessoas perderam suas vidas, o que fez com que os fulanis ficassem em quarto lugar na lista dos grupos militantes mais mortais. Entre os principais ataques estão o massacre de cerca de 300 pessoas no estado central de Benue e o ataque no sudeste do estado de Enugu, em que mais de 40 pessoas foram mortas, causando indignação por toda a Nigéria. Propriedades foram destruídas e milhares de pessoas forçadas a fugir de suas casas.
Quem são os fulanis?
Acredita-se que são o maior grupo nômade (que não têm casa fixa) do mundo encontrado por todo o Oeste e Centro da África – do Senegal à República Centro-Africana. Na Nigéria, alguns continuam a viver como pastores seminômades enquanto outros se mudaram para as cidades. Diferente daqueles que se integraram às cidades, os grupos nômades gastam o maior tempo de suas vidas na mata e estão mais envolvidos com os confrontos
Eles pastoreiam seus animais por amplas áreas, geralmente confrontando comunidades agrícolas. Com frequência, eles estão ligados a outros grupos, como os hausas, vivendo juntos por um longo tempo. Alguns se referem a eles como hausas-fulanis, mas são grupos diferentes. Os fulanis tiveram um papel-chave no renascimento do islã na Nigéria, no século 19.
Contra o que os pastores de cabra fulanis lutam?
Segundo a BBC, desentendimentos sobre o uso de recursos essenciais como terras agrícolas, áreas de pastagem e água entre os pastores e agricultores locais são tidos como a maior fonte de conflitos. Pastores de cabra fulanis viajam centenas de quilômetros em grande número com seus rebanhos a procura de pasto. Eles estão sempre armados como forma de proteger seu gado.
Com frequência confrontam agricultores, que os acusam de danificar suas plantações e falhar no controle dos animais. Os fulanis respondem que são atacados por comunidades agrícolas que tentam roubar seu gado e que estão apenas se protegendo. Os confrontos costumavam se limitar à região central da Nigéria, principalmente contra cristãos da comunidade agrícola no estado de Plateau. Mas o efeito contínuo da mudança climática nas terras de pastagem os levou a avançar para o Sul, em busca de grama e água.
Essa situação expandiu o alcance do conflito, com incidentes mortais sendo mais relatados nas partes do sudeste do país. Isso aumentou o medo de que a violência ameace a frágil unidade que existe entre os diversos grupos étnicos na Nigéria.
Por que o conflito com os fulanis é tão cruel e complicado?
Além dos conflitos com agricultores, há alegações de que fulanis estiveram envolvidos em roubos armados, estupros e violência comunitária, especialmente no centro e nordeste do país. Acusações parecidas foram feitas contra eles em Gana e Costa do Marfim. Muito da violência no centro da Nigéria vem desde os confrontos de 2002 e 2004 em Yelwa, na área de Shendam, estado de Plateau, em que milhares perderam suas vidas.
A polícia anunciou a prisão de diversos militantes armados fulanis com “armas perigosas” fora da capital, Abuja. Um dos homens disse que estavam a caminho de recuperar gado roubado. Associações fulanis negam constantemente qualquer ligação com militantes, dizendo que são culpados por crimes cometidos por outros.
De onde vêm as armas dos pastores de cabra fulanis?
Ainda de acordo com a BBC, a natureza mortal da violência tem feito muitas pessoas se questionarem sobre a fonte das armas usadas para realizar as atrocidades. De acordo com um antigo comissário da polícia federal, Abubakar Tsav, as armas mais usadas nesses tipos de conflitos são metralhadoras AK47. Disse ainda que conflitos na Líbia e Mali têm aumentado a proliferação de armas no país porque as fronteiras permeáveis da Nigéria são incontroláveis. Outra teoria é que os pastores de cabra conseguem armas do mercado negro, por todo o Oeste e Centro da África.
Qual a seriedade do conflito com os fulanis?O conflito custou, à maior economia da África, mais de 14 bilhões de dólares entre 2012 e 2015, de acordo com a organização humanitária Mercy Corps. Isso tem “impedido o desenvolvimento do mercado e crescimento econômico ao destruir recursos produtivos, impedindo comércio, dissuadindo investimentos e desgastando a confiança entre os que atuam nos mercados”, acrescentou em um dos relatórios.
O recente aumento também representa um desafio para a segurança de uma nação já desgastada pelo grupo Boko Haram, no nordeste do país. Diferente da crise do Boko Haram, que está concentrada a uma fração do país, o conflito dos pastores de cabra fulanis ocorre em quase todas as partes das nações mais populosas da África. A Organização das Nações Unidas (ONU) disse estar preocupada pela “completa impunidade desfrutada por responsáveis de ataques anteriores” e pediu ao governo que fizesse mais para proteger os cidadãos.
Relatos na mídia local dizem que o governo está trabalhando em uma lei para estabelecer áreas de pastagem por todo o país, como forma de acabar com a tensão entre os grupos rivais. Porém, o movimento se mostra impopular entre muitos, especialmente no Sul. “Os pastores de cabra fulanis estão comandando um negócio com seus rebanhos, por que nós deveríamos desistir de nossas terras pelos interesses deles?”, um homem disse no Twitter.
Entretanto, é difícil generalizar qualquer coisa relacionada aos fulanis porque, na maioria dos casos, esses pastores de cabra nômades nem mesmo se conhecem e cuidam de suas atividades de forma independente. Com certeza, não há evidência que grupos fulanis possuem uma única meta política. Então é impreciso descrevê-los como um único grupo militante. Isso torna difícil para as autoridades formularem um plano para acabar com a crise.
Perseguição aos cristãos na Nigéria
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